10ª Semana de Paz e repercussões na mídia

Na programação da Semana da Paz, um debate com editores de jornais e TVs de Londrina apresentou como, cada veículo, trata a cultura da paz.

 

Texto Patrícia Zanin

As reflexões apresentadas no debate devem repercutir na prática da imprensa.

“Para vir aqui, fiquei me perguntando o que avançou de 2009 para cá e percebi que houve avanço sim, na minha prática”, declarou Fernando Brevilheri, diretor de jornalismo da TV Tarobá, afiliada da Bandeirantes.

Ele garante ter ampliado, na TV, a divulgação das ações do Londrina Pazeando e do Compaz (Conselho Municipal de Cultura da Paz).

“Hoje mesmo fomos cobrir uma caminhada pela paz da meninada do Milton Gavetti. Ligaram três ou quatro pais, mais dois professores pedindo cópia da matéria”, exemplificou.

Gelson Negrão, diretor de jornalismo da Rede Massa (retransmissora do SBT), lembrou que o espectro da violência vai além da segurança: é falta de estrada boa, é o trânsito que mata. “São as diversas faces da violência”.

O público que foi conferir o debate no auditório da Unopar (campus ao lado do Shopping Catuaí), pôde contribuir com perguntas, críticas e colocações.

Estudantes de jornalismo, relações públicas e profissionais, além de professores universitários e representantes do Compaz, participaram do debate, realizado no dia 22 de setembro.  

Entre os retornos do público, uma professora, Sara, elogiou o Jornal de Londrina e diz que usa as edições em sala de aula, com os alunos. “Vejo, com meus alunos, o que a imprensa pode fazer, todos os dias, para mudar a nação”.

Ela também exemplificou que assistiu filmes e leu livros indicados pelo jornal. “A senhora me traz uma alegria e também um medo”, disse a diretora de redação do Jornal de Londrina, Carla Nascimento.

Para ela, a alegria diz respeito ao prazer de saber que o jornal, ao divulgar boas práticas, incentivam as pessoas. E o medo é o de não errar com a sociedade. “Acredito que a imprensa se faz em mão dupla, com a contribuição do público”, explicou Carla, valorizando as colunas e seções de interatividade que o JL mantém.

Outra participante, a estudante Irene, da Unopar, relatou que produziu um programa policial trazendo ações propositivas e perguntou se seria possível esse tipo de iniciativa na grande imprensa. “Não. A não ser que esse programa renda R$ 250 mil por mês e dê 16 pontos de audiência”, disse Gelson Negrão.

Para Bruno Waick, da Rede Record, “o povo quer ver a desgraça alheia no ar”. Carlos Camargo, apresentador de programa policial e tido como líder de audiência, foi ver o debate e afirmou que “programa policial não é só desgraça”. “Pessoas desaparecidas são localizadas por meio do programa”, contou.

Ele também diz que deixa de colocar determinadas imagens que chocam muito. Questionado por integrantes da Rede de Desenvolvimento Local – a jornalista Carolina Chueire e a estagiária Ana Carla Barbosa – se incluiria informações propositivas no programa de TV, Camargo que esporadicamente ele as traz, mas que não haveria material suficiente todo dia.

“Temos um universo maior de coisas piores do que melhores acontecendo e o programa policial reflete isso”, analisa Camargo.

Para Fernando Brevilheri, 99,9% dos entrevistados em programas policiais são pobres. “Cadê o pessoal que responde por lavagem de dinheiro? Três deles, que estavam numa festa onde compareci, desviaram, sozinhos, mais do que todos os mostrados nos 10 anos do programa do Camargo”, comparou.

Na visão de Gelson Negrão, o retrato do País é esse: podre e feio. E a imprensa, para ele, reproduz e mostra o que está acontecendo.

Na visão de William Santin, repórter especial do Jornal Folha de Londrina, o jornalista fica revoltado com o comportamento do poder público diante da negligência com a comunidade. Ele acredita que a imprensa pode fazer melhor com a cobrança da sociedade. “A sociedade e o jornalista não podem parar de se indignar”, alerta.

Gelson Negrão acredita que, como o Estado falha na assistência, são nos programas policiais que as pessoas buscam a solução para vários problemas.

Para Patrícia Piveta, editora do Paraná TV (Rede Globo), muitos veículos estão levantando a bandeira da educação, que pode ser uma saída frente à violência e à promoção de uma cultura da paz.

Uma das integrantes do Compaz, Leozita Vieira, lembrou que como estamos no período eleitoral, é importante refletir: não é uma agressão para ganhar uma eleição o candidato ter que destruir o outro?” Mirtes, também do Compaz e funcionária da Secretaria da Mulher, acredita que tanto o debate de 2010 como o realizado em 2009 não só plantou semente na atuação da imprensa no que diz respeito à cultura da paz como germinou. “Vocês, que estão aqui, vão fazer a diferença”, disse Mirtes, referindo-se aos editores dos veículos.

O debate foi organizado pelo coordenador da ONG Londrina Pazeando, Luis Cláudio Galhardi, e pela diretora da TV UEL, Rosa Abelin. O debate teve também a participação de Lino Ramos, diretor de jornalismo da Rádio Paiquerê AM, a mais antiga de Londrina com produção de jornalismo. A mediadora do debate, jornalista Andréa Monclar, disse que a idéia é promover, ainda neste ano, um evento com representantes das rádios.

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