Cultura de Paz e pós-pandemia (1)

TEXTO 1

Breves notas reflexivas sobre como pensar a Cultura de Paz em tempos de Covid-19 (*)

“É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas, através de arquipélagos de certezas” Edgar Morin.

Entre a segunda e terceira décadas dos século XXI estamos vivendo um momento de vácuo na humanidade. Um vazio diante de tantas certezas, narrativas, tecnologias e individualismos do ser humano. Um vírus tomou conta da agenda mundial e afetou todas as pessoas, países e ideologias. O “coronavírus”, junto com a angústia e a tristeza das mortes, internações e medos trouxe, ao mesmo tempo, a necessidade de revisitar/rever muitas coisas daquilo que chamamos de “normalidade” (1).

Esta suposta normalidade estaria na vida que vivemos. Mas, de que vida falamos? Das pessoas que podem ficar em quarentena? Que tem seus rendimentos resguardados? Das pessoas que não podem ficar sem trabalhar porque senão não tem como sobreviver? Pessoas que vivem nos condomínios, apartamentos, na periferia, nas favelas? Economia ou saúde? Ambas? Ciência ou jejum? Os dois? Empresários (empregadores), profissionais liberais, funcionários públicos, pessoas vulneráveis que dependem exclusivamente de benefícios do Estado enfim, quem vencerá e quem sairá vencido neste momento? Já sabemos a resposta, separados quase todos perdem e juntos a maioria pode superar! Edgar Morin – com 98 anos, neste momento em quarentena na França – sabiamente disse: “Não há dúvida que precisamos de racionalidade em nossas vidas. Mas temos a necessidade de afetividade, ou seja, de laços, de plenitude, de alegria, de amor, de exaltação, de jogo, de EU, de NÓS”(2).

As palavras de Edgar Morin nos dão pistas de como “começar” a encarar este momento que trará mudanças profundas ao nosso sentido de “normalidade”. O primeiro ponto é “deixar a incerteza chegar” e acolher o momento que não tem prazo determinado para acabar. Nosso foco é no tempo presente, da preservação da vida, da saúde física, da saúde mental, das relações humanas e especialmente da EMPATIA e da SOLIDARIEDADE com pessoas e grupos que estão vulneráveis e desamparados neste momento. Lembremos que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e isto está muito mais evidente neste momento!!!!!

Portanto, não adianta, no vácuo gerado pelo conoravírus, ficar desesperado para tentar deixar tudo “normal”: calendários, compromissos, dietas, atividade física, cursos on-line etc, que, obviamente, são importantes. Mas o que precisamos, fundamentalmente, é encontrar o “tipo de pessoas” que seremos após este vácuo! Que vida pessoal pretendemos cultivar com as pessoas da família? E com os colegas de trabalho? Como devemos usar nossa formação profissional para contribuir com um mundo melhor, mais humano, menos desigual e sem tantas injustiças? Como vamos pensar nossa “pegada ambiental” e nossas necessidades de consumo uma vez que boa parte do que vivemos hoje – inclusive o coronavírus – também está atrelado ao desequilíbrio ecológico?

Vejam que até aqui não explicitamos o termo Cultura de Paz! Talvez e justamente porque queremos “deixar a incerteza chegar“, ficar, remoer e provocar nossos passos adiante para pensar a vida pós-pandemia. Se uma “Cultura de Paz se faz com Educação para a Paz” (lema do NEP/UEPG), deixamos a pergunta: estamos exercitando a Educação para a Paz em nossas vidas neste momento???

(…continua …)

Att. Prof. Dr. Nei Alberto Salles Filho (NEP/UEPG)
FONTE:  https://www2.uepg.br/nep/

(*) as questões aqui propostas compõe as discussões do Núcleo de Educação para a Paz da UEPG/PR e destinam-se unicamente ao contexto da reflexão pedagógica da Cultura de Paz e da Educação para a Paz neste momento da pandemia da Covid-19. O texto não podem ser utilizado em outros contextos como tentativa de desvirtuamento de seus objetivos originais.

(1) Vale pensar no conceito de “normose” como a “patologia da normalidade”, analisado por Pierre Weil, Jean Yves Leloup e Roberto Crema em livro do mesmo nome.

(2) MORIN, E. Ensinar a Viver, 2015, p.36. Obs: A citação introdutória do texto também é da mesma obra, p. 51.

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