Por Raquel Derevecki – 25/07/2021
O frio intenso registrado em diversos lugares do Brasil nas últimas semanas preocupou a advogada Ana Maria Rattes. “Fiquei pensando nas pessoas que estão na rua e que não aceitam ir para abrigos por terem cães ou outros pertences que não podem levar”, relatou. Por isso, mesmo sem saber costurar, a carioca decidiu confeccionar sacos de dormir para doação usando tecido de guarda-chuvas danificados. “E deu certo”.
De acordo com ela, a ideia surgiu depois que viu alguns voluntários de São Paulo divulgarem uma ação parecida na internet. “Então, falei com duas amigas, elas aceitaram e já começamos a arrecadar os guarda-chuvas para começar o trabalho”, conta a moradora de Petrópolis, município localizado a 60 km da capital do Rio de Janeiro.
Lá, as três aposentadas se reúnem semanalmente para conversar e preparar os abrigos impermeáveis, sem pressa. “Inclusive, foram nesses encontros que elas me ensinaram a costurar na máquina”, comemora Ana, que já finalizou mais de 60 sacos de dormir e iniciou a distribuição deles com o auxílio do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua da cidade – o Centro Pop.
“A Ana nos procurou falando dessa iniciativa, e achamos excelente para os dias de frio que temos enfrentado”, conta a coordenadora do espaço, Telma Resende. “Então, nossas equipes de abordagem já estão entregando esse presente”, conta a assistente social.
Segundo ela, atualmente o município possui cerca de 160 pessoas em situação de rua e atende quase 30% deles em abrigos masculinos e femininos. “Oferecemos cama, cobertores, alimentação e acompanhamento completo com psicólogos, assistentes sociais e educadores”, comenta. “Só que nem todos aceitam ir para um abrigo, pois cada um tem seus motivos e sua história”, explica Telma.
Por isso, a petropolitana garante que os sacos de dormir confeccionados oferecem uma oportunidade de essas pessoas terem a noite aquecida onde estiverem. “Isso não muda nosso objetivo de reinseri-los na sociedade em algum momento, mas é algo pontual que eles precisam”, afirma a assistente social, ao citar que alguns negam o presente, mas outros agradecem muito pelo gesto de carinho.
E são esses casos que incentivam Ana e suas colegas a continuarem o projeto. “Afinal, o importante é tentarmos reduzir as carências dessas pessoas tão marginalizadas e com tanto sofrimento”, afirma a advogada, incentivando voluntários de outras cidades a também se dedicarem à ação. “Quanto mais for divulgado e colocado em prática, melhor”.
Em Petrópolis, o projeto é chamado de “Guarda-chuvas que Acolhem” e recebe doações de materiais para a confecção diretamente no Centro Pop da cidade. “Além disso, também é possível doar cobertores, agasalhos, meias e até se colocar à disposição para ajudar em algum projeto que envolva a população de rua”, convida Telma, solicitando também parcerias com empresas que possam contribuir com o retorno dessas pessoas ao mercado de trabalho, pois “o que elas mais precisam é de uma oportunidade”.