Por Raquel Derevecki – 29/08/2021
Mãe de quatro filhos, a paulista Edvania de Oliveira sempre ajudou seus pequenos nas tarefas escolares e até ensinou um deles a ler. “Fui mostrando as famílias silábicas, juntando as palavrinhas e deu certo”, conta a faxineira de 39 anos, que sonhava desde criança em se tornar professora, mas nunca teve oportunidade de estudar Pedagogia. “Até agora, quando decidi ensinar uma amiga do trabalho durante nossa hora de almoço, e tudo mudou para nós duas”, comemora.
Essa colega é a pernambucana Eliene Maria da Conceição, de 48 anos. “Nos demos muito bem desde o começo e eu contei para ela que não sabia ler e nem escrever”, relata a mulher. “Aí um dia cheguei triste porque tinham me humilhado por causa disso, e ela se ofereceu para me ajudar. Eu nem acreditei”.
Emocionada com o convite, Eliene perguntou à sua supervisora se poderia usar alguns minutos do intervalo de almoço para estudar com a amiga e realizar aquele sonho. “Nossa chefe liberou e ainda fez uma surpresa: me deu de presente um kit com caderno, caneta, lápis, borracha e um estojo para eu guardar tudo. Chorei de felicidade”.
As aulas iniciaram em abril deste ano com o aprendizado das vogais, consoantes e sílabas, apresentadas de maneira simples pela colega de trabalho e copiadas cuidadosamente pela estudante. Só que os minutos de almoço não eram suficientes, então elas também começaram a se encontrar após o expediente para continuar as lições. Assim, em poucas semanas “eu consegui ler as primeiras palavras e até enviei uma mensagem de ‘bom dia’ para o meu filho”, recorda Eliene. “Nunca imaginei que isso fosse acontecer”.
Além disso, a amiga comentou a respeito de um curso de alfabetização para adultos que começaria no município, e motivou sua “aluna” a se matricular. “É o maior presente que ganhei na minha vida”, afirma a pernambucana, que atualmente frequenta as aulas de segunda a sexta-feira, das 19 às 21 horas, em uma escola de Lençóis Paulista, interior de São Paulo.
Vidas transformadas
Mesmo assim, a amiga Edvania continuou a ensiná-la no trabalho, o que comoveu os colegas e também a supervisora Lívia Barreto. “Ver essa cena todos os dias é emocionante e meu coração vibra de alegria”, relata a gerente da unidade Poupatempo da cidade.
Então, “como a Edvania já tinha me falado do sonho antigo de ser professora, entrei em contato com a Universidade Orígenes Lessa (Facol), aqui de Lençóis, e perguntei da possibilidade de ela cursar Pedagogia”, conta Lívia, emocionada com a resposta que recebeu. “Assim que contei a história delas, eles concederam uma bolsa de 100% para a Edvania”, disse, comemorando o desfecho das histórias dessas duas colaboradoras. “A vida delas se transformou e o exemplo de amizade, cidadania e amor ao próximo que deram marcará para sempre nossas vidas”, finalizou.