Boa tarde!
Primeiramente, é um prazer participar deste momento, importante a todos, mas intimamente significativo pra mim.
Gostaria de relembrar pequenos trechos de reportagens divulgadas na imprensa que, em comum, possuem como protagonista a arma de fogo:
1. Alcides do Nascimento Lins, 22 anos, estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), segundo testemunhas, foi morto por não saber informar onde estava o vizinho, procurado pelos autores dos disparos (06/02/2010)
2. Maria Islaine de Morais, 31 anos, estava trabalhando quando foi surpreendida pelo ex-marido. Ele atirou sete vezes, sem que ela reagisse (21/01/2010)
3. Daniel Duque, 18 anos, morre ao ser baleado em saída de boate. (28/06/2008)
4. Gabriela Prado Maia Ribeiro, 14 anos, pela primeira vez pegava o metrô sozinha. Ficou no meio do fogo cruzado. Foi atingida no lado direito do peito, não resistiu e morreu. (25/03/2003)
5. Vitória Bernardes, jovem atingida enquanto utilizava telefone público(31/12/2001).
Aos 16 anos de idade fui vítima de uma bala perdida. Sobrevivi, mas carrego em mim, visivelmente, a marca do poder devastador de uma arma.
Por mais dificuldades que a nova realidade me imponha, estou aqui, podendo reformular sonhos, construir objetivos, dar CONTINUIDADE A VIDA. Chance essa, arrancada brutalmente das pessoas citadas acima, entre tantas e tantas outras. Ao citar cada nome, o gosto de sangue me retorna a boca.
Num primeiro momento, podemos dizer que a arma de fogo sim, é a “atriz principal”, mas garanto, dentro da pluralidade de cada história citada e das diferentes formas que ocorreram, a verdadeira protagonista é a DOR, o sofrimento.
Mas me perguntarão então: “Qual a finalidade de relembrar estes casos? Contar a minha história?”. Esta é a única forma de não esquecermos os rostos, as histórias interrompidas, as famílias marcadas, por detrás dos números, números estes fundamentais, pois embasam, provam a importância do que viemos fazer aqui hoje.
Engana-se quem acredita que o tema desarmamento é o foco. Aqui queremos evidenciar o direito maior existente a todos, O DIREITO A VIDA! O Estatuto do Desarmamento e a campanha de entrega voluntária de armas comprovaram uma lógica simples: menos armas = menos mortes (ou vidas permanentemente modificadas).
Muito se fala sobre violência, insegurança, mas pouco se debate ou se age. A partir do referendo (proibição da comercialização de armas de fogo e munições), comecei a me envolver com a busca pelo desarmamento. Foi a forma que encontrei de atuar perante a violência, saindo do papel passivo de vítima.
Minha primeira experiência profissional, como psicóloga, foi com adolescentes em conflito com a lei. Num primeiro momento, senti receio que minha deficiência pudesse, de alguma forma, chocá-los, deixá-los desconfortáveis. Para minha ingênua surpresa, grande parte daqueles adolescentes já sabia perfeitamente as sequelas geradas por uma arma de fogo. Pela primeira vez compreendi porque, mesmo com frequentes notícias sobre bala perdida, a minha, em particular, causava espanto em muitas pessoas. Classe média, branca, mulher… Estou fora do “grupo de risco”, onde ainda se reproduz a idéia de imunidade em relação a isto, ao contrário destes jovens, que são as principais vítimas. Com eles aprendi muito sobre e como compreender a violência e a me envolver ainda mais nesta causa.
Não sei o que levou a cada um defender esta idéia. Apenas sei que, de alguma forma, ter o meu nome ligado a esta luta é uma forma de ressignificar o que ocorreu comigo e mais, sinto-me responsável em ser a voz calada de tantos que perderam suas vidas. Apoiar o Instituto Sou da Paz e falar sobre este assunto faz com que cada vez mais eu deixe de ser APENAS uma vítima, mas sim sobrevivente, que não quer ter mais em sua vida, nem a de seu próximo, protagonistas como arma de fogo, sofrimento… Que acredita que não só ela, mas todos podem ser responsáveis por suas escolhas. Ou seja, sermos nós mesmos os verdadeiros protagonistas de nossa história.
Muito obrigada!
Vitória Bernardes
Conheça um pouco mais:
http://movimentosuperacao.ning.com/profile/VitoriaBernardes http://twitter.com/toia_bernardes
Compromisso firmado: Polícia Federal e parlamentares em defesa do Estatuto do Desarmamento
FONTE: Instituto Sou da Paz ( www.soudapaz.org.br )
“Saímos desta reunião bastante satisfeitos. São raras as oportunidades e mais raras ainda as organizações que conseguem ser ouvidas no Congresso nacional e efetivamente pautar as ações dos órgãos públicos. Vamos monitorar de perto o andamento de cada um dos compromissos firmados e esperamos contar com o apoio de todos”, comemora e convida o diretor.
Na quinta feira dia 29 de abril, a equipe do Instituto Sou da Paz esteve no Congresso Nacional apresentando, para um plenário cheio, os resultados da pesquisa Implementação do Estatuto do Desarmamento: do papel para a prática. A pesquisa avaliou a implementação da lei em 10 estados brasileiros e concluiu que, apesar de grandes e significativos avanços, alguns aspectos importantes não saíram do papel. (para baixar o Resumo Executivo ou a pesquisa completa, CLIQUE AQUI).
Compunham a mesa Denis Mizne, diretor executivo do Instituto Sou da Paz, Dr. Celso Yamashita, representando o Ministério da Justiça, a deputada federal Marina Magessi, o deputado federal José Genoíno, o delegado Marcus Vinícius Dantas, chefe da Divisão de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas e o Coronel Clovis Pinto Ilha da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército. Após a apresentação do diretor do Sou da Paz, foi convidado para também compor a mesa o delegado Adelar Anderle, Coordenador Geral de Controle de Segurança Privada da Polícia Federal.
“Nosso grande objetivo ao lançar a pesquisa no Congresso foi, primeiro contribuir com os parlamentares oferecendo informação qualificada e propostas concretas de melhorias para que eles continuem atuando em defesa da lei, e depois cobrar dos órgãos responsáveis pelo controle de armas no país, em especial da PF e do Exército, que atuem com rigor para sanar os problemas apontados pela pesquisa”, explica Denis.
Esse esforço deu resultado. “Saímos de Brasília com compromissos públicos extremamente importantes firmados”, comemora Denis. O deputado federal José Genoíno se comprometeu a encaminhar, junto com o Instituto, as conclusões da pesquisa ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, ao ministro da Defesa, Nelson Jobim e ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer. Também, em parceria com a deputada federal Marina Magessi, se comprometeu a apresentar um projeto de lei com foco na retirada do mecanismo de disparo das armas de colecionadores (leia mais na pesquisa).
O delegado Dantas, da PF, concordou com a proposta trazida pela pesquisa de criar um grupo de coordenação nacional do controle de armas, composto por Exército, Polícia Federal e Ministério da Justiça. Além disso, o delegado afirmou que a Polícia Federal já está estudando um novo modelo de banco de dados balístico, que, de acordo com a lei já deveria ter sido criado. Afirmou ainda que, com o apoio do Ministério da Justiça está desenvolvendo uma nova versão do SINARM (banco de dados da PF) com nova tecnologia e que já será integrado ao SIGMA (sistema de dados do Exército). “A criação do banco de dados balístico e a integração dos sistemas é urgente, focos nas nossas recomendações e ter o compromisso de que essas duas medidas estão sendo ou serão encaminhadas é muito importante”, completa Denis.
Já o Coronel Ilha, representante do Exército, afirmou que levaria as recomendações da pesquisa ao conhecimento do Comando do Exército, para avaliação.
Por sua vez, o delegado da PF Adelar Anderle explicou que desde 2006 a Polícia Federal vem intensificando a fiscalização das empresas de segurança privada, criando novas regras para controlar as armas em poder destas instituições e se comprometeu a continuar exigindo rigor no registro e controle de todas as armas em poder dos vigilantes.