Lucian Haro – 17/01/2021
Na Associação Refúgio, mais do que esporte, música ou dança, as crianças aprendem sobre oportunidades. “Nosso objetivo não é formar músicos profissionais, atletas ou bailarinas, mas cidadãos”, descreve o criador, reverendo Márcio José Novais de Carvalho, da Igreja Presbiteriana, que passou a olhar “o ser humano como um todo”, como costuma dizer.
A missão de resgatar vidas teve início ainda nos anos 90 quando, tocado pela fé, decidiu abrir as portas da própria casa, no município de Cambé, interior do Paraná, para abrigar pessoas em situação de rua. Tempo depois, Márcio e a esposa, Michelle, viram que o foco devia estar na prevenção e passaram a atuar junto às crianças carentes do bairro. “Não queríamos que trilhassem o mesmo caminho. Nós colocávamos uma TV para o lado de fora da casa para chamar a atenção delas”, lembra.
Aos poucos, o projeto que nasceu do amor ao próximo foi ganhando corpo. Em 2005, o Refúgio – que na época já atendia mais de 100 pequenos moradores do bairro Ana Rosa como centro de promoção cultural – ganhou sede própria: o prédio onde funcionava um antigo mercadinho da comunidade. Com a mudança, foi possível acolher novos membros, incluir mais aulas no cronograma de atividades, oferecer amparo social e psicológico para as crianças, além de estender todo o apoio também às famílias delas.
Foco em excelência
Hoje, a associação ocupa o espaço do antigo mercado e mais o terreno ao lado, fruto de doação. “Nosso intuito é atender as crianças com excelência e oportunizar condições para um desenvolvimento pleno”, destaca o reverendo, que compara a estrutura a qualquer instituição privada da região. “Para você ter uma ideia, o meu filho participa das ações. Ou seja, se não é bom para ele, não será para os filhos dos outros. Essa é a nossa melhor forma de avaliar o que é oferecido”, explica.
Resultado de uma grande obra, que durou de 2012 a 2016, o Refúgio conta com estúdio de dança, espaço para aulas de artes marciais (como jiu-jitsu e taekwondo), auditório, sala de música, quadra esportiva, espaço para terapias e atendimento pessoal: tudo de graça. Calcula-se que, em 15 anos, mais de mil crianças e adolescentes já tenham sido beneficiados. “Nós viemos para romper a ideia de que para pobre qualquer coisa tá bom. Queremos o melhor para eles”, resume Carvalho. Atualmente, são 264 matrículas ativas e a associação conquistou uma parceria com a prefeitura da cidade para funcionar.
Vida transformada
Lucas Henrique dos Reis da Rocha, de 18 anos, é o exemplo de que a metodologia de mostrar caminhos e transformar o jovem em gestor da própria história funciona. Ele passou a frequentar a associação aos 8 anos e hoje é professor de música de crianças como ele. “O Refúgio mudou a minha vida de várias formas, me ajudou a moldar quem eu sou, minha profissão, minha fé, meus amigos. Em momentos difíceis, era meu escape. Eu sempre amei esse lugar”, expressa.
Segundo Lucas, sempre que precisa descrever para alguém o que o Refugio representa para ele, lembra da primeira coisa que sentiu quando pisou lá: amor. “O Refúgio representa amor, principalmente pelas crianças do bairro. E eu sou prova viva disso”, garante.