Por Carolina Cruz – G1 – 01/04/2021
Isadora Jochims, reumatologista no Hospital Universitário de Brasília (HUB), conta que iniciativa pretende humanizar atendimentos. ‘Não estamos em uma guerra, estamos em uma pandemia, cuidando de vidas ‘, diz.
![](https://midiadepazparana.org.br/wp-content/uploads/humanizacao-1-.jpg)
Em uma ala isolada para casos da Covid-19, no Hospital Universitário de Brasília (HUB), pacientes são identificados com informações que vão além do nome completo, idade e número do leito. Uma iniciativa idealizada pela reumatologista Isadora Jochims mostra um pouco sobre quem, de fato, está naquele leito específico. É o que ela chama de “prontuário afetivo”.
“Gosta de: barulho de água e passarinho; Raul Seixas; música sertaneja raiz”, aparece escrito em um dos bilhetes.
Segundo Isadora, de 35 anos, a iniciativa faz parte de ações para “humanizar o atendimento”, em meio ao cenário de pandemia.
“Estou cansada de ouvir que estamos em uma guerra. Não estamos em uma guerra, estamos em uma pandemia, cuidando de vidas”, diz a médica.
A arte de salvar vidas
![Intervenção artística no Hospital Universitário de Brasília (HUB) faz parte de projeto para humanizar atendimento — Foto: Arquivo pessoal](https://s2.glbimg.com/97ynJpkWmOoXvH83qkg2sqFoziM=/0x205:720x633/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/0/j/9AQa6gRzuLdEGeJRGFCQ/humanizacao.jpeg)
Ainda antes de se formar, Isadora já se interessava por intervenções artísticas. Hoje, ela atua na Comissão de Humanização do HUB, e conta que o prontuário afetivo é uma das muitas expressões de arte possíveis.
“Essa ideia de intervenções artísticas no ambiente de saúde foi uma questão de sobrevivência. De tornar o ambiente mais leve, provocando os profissionais que estão ali, atuando”, conta.
Uma das atividades diárias da reumatologista é ligar para os familiares dos pacientes para informar sobre o estado de saúde, já que os infectados pelo novo coronavírus não recebem visitas. Foi durante as chamadas que a médica descobriu as paixões dos doentes.
“Eu passava todas as informações médicas, aí perguntei: ‘Olha, se por acaso ele acordar de uma sedação, o que ele gostaria de ouvir? Do que ele gosta?”, lembra.
“Do outro lado da linha, ouvi um sorriso, uma risada. E as pessoas diziam: ‘Ele é torcedor do Palmeiras’, ‘gosta de Raul Seixas ‘, e fomos anotando”, diz Isadora.
No leito de um palmeirense intubado, e em coma induzido, tem o aviso: “O Palmeiras ganhou”. O recado, é para que o paciente tenha uma boa notícia boa quando acordar.
![Bilhete identifica paciente com suas paixões no Hospital Universitário de Brasília (HUB) — Foto: Arquivo pessoal](https://s2.glbimg.com/uA7SHEI9DfD97U86Ke7-6iFh6S4=/0x144:720x893/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/k/e/urgzSqQAi2WOsmUORngA/humanizacao-2-.jpeg)
Bilhete identifica paciente com suas paixões no Hospital Universitário de Brasília (HUB) — Foto: Arquivo pessoal
Tocar os sentimentos dos pacientes, da família e dos profissionais, segundo a médica, é essencial. “A gente chama de arte relacional”, explica ela.https://0395f8400825d9fcd4b8caf5b1f39fa3.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
“A arte não existe se não tiver o outro. Pra ela acontecer, eu preciso da resposta do familiar, dos profissionais que estão ali e provocar as mudanças na relação”, diz.
Reação dos médicos
![Enfermeira no DF conta como funciona o 'prontuário afetivo' no HUB Enfermeira no DF conta como funciona o 'prontuário afetivo' no HUB](https://s02.video.glbimg.com/x240/9398865.jpg)
A iniciativa começou no domingo no final de março, mês em que o Distrito Federal registrou o maior número de hospitalizados e de mortes por Covid-19. O prontuário efetivo está sendo colocado em prática na enfermaria.
“Os médicos acharam engraçado. Perguntavam: ‘Ei, quem colocou isso aqui?’, conta a médica Isadora Jochims.
“Depois, muitos começaram a cantar algumas músicas que os pacientes gostavam”, diz ela
Uma das enfermeiras que trabalha na equipe, Dayani Adami, também colabora com os prontuários e defende esse tipo de contato com o paciente. Dayani diz que os pacientes, mesmo sedados, podem reagir a algumas canções (veja vídeo acima).
“Esse daqui não é só o paciente do leito 1. Esse daqui é o paciente que gosta da música tal, que gosta de comer tal coisa, que tem filhos. Quando a gente sabe que o paciente é o amor de alguém, a gente tem que cuidar dele como se fosse alguém da nossa família”, resume Dayani.